Deixe-me contar a você sobre o maior espetáculo já criado na história.
O que o torna o maior, você pergunta? A resposta é simples: a arquitetura.
A sala escura do teatro apresenta a mesma história repetidas vezes. Mas, embora seja sempre a mesma narrativa, existem infinitos cenários derivados do mesmo roteiro.
Duas das minhas versões favoritas são sobre a guerra, e a segunda, sobre o labirinto dos ratos.
Primeiro, vamos deixar algo claro: você sabe que esta é uma história planejada por pessoas, que existe um “bastidor”. Mas as pessoas que interpretam os papéis? É aí que fica interessante. Elas não fazem ideia da existência do espetáculo. Elas estão lutando na guerra, mas se levarem um tiro, muito provavelmente morrerão. Não existem “repetições”.
Agora, deixe-me falar sobre o mundo em que vivem — esqueça por um momento que isso tudo é um espetáculo.
Nesse mundo, lutam pela sobrevivência, obedecendo ordens superiores. Com muito esforço, alguns até alcançam patentes mais altas, como generais. Avançam, crescem, orgulhosos de onde chegaram.
Mas a maioria das pessoas tem suas vidas destruídas. E por quê? Porque buscam a paz.
O problema não está em querer paz em si, mas sim em acreditar que tal coisa seja possível neste mundo. Baixam a guarda? Mortos.
A paz é uma ilusão para confortar seus corações.
A segunda versão que considero fascinante é a do labirinto dos ratos.
O valor de suas vidas é medido por quão longe conseguem chegar no labirinto. Quanto mais longe chegaram, mais bem vistos serão. Sentem orgulho de sua “conquista”.
Ao mesmo tempo, tudo o que fazem ao longo de suas vidas, é comer, brincar, reproduzir, interagir uns com os outros, brincar com seus brinquedos e, por fim, correr pelo labirinto.
Eles não questionam de onde vem sua comida. Não questionam as paredes em que passaram a vida inteira. Afinal, aquelas paredes são sua vida, estiveram lá antes mesmo de nascerem. Não há nada a questionar.
Agora, perceba: ambos os cenários contam a mesma história. Confuso ainda? Vamos aprofundar.
Assim como os ratos não questionam as paredes, nem o porquê de estarem ali, na guerra também ninguém se detém para refletir sobre o que está acontecendo.
Mas não é totalmente culpa deles.
Na guerra, estão ocupados tentando não morrer. E os ratos? Estão tão distraídos com seus brinquedos, que nem notam o tempo escapar. Mas que tipo de brinquedo poderia ter tanto poder sobre eles? O tipo de brinquedo que traz uma falsa sensação de conforto.
É só isso que eles buscam: conforto. E isso lhes é dado em suas vidas diárias.
Esses dispositivos, que chamo de brinquedos, parecem apenas diversão. Mas cada clique, cada movimento, mantém todos presos, como fios invisíveis dentro do labirinto. O problema é que esses brinquedos viciam, anestesiam e cegam — a droga perfeita para manter todos alienados. Estão retirando deles a capacidade de pensar por si mesmos. Os tornam insensíveis à vida, sem propósito, apenas com desejos artificiais.
E isso é bom! Por quê? Porque assim são facilmente controlados, incapazes de questionar as paredes ao seu redor. Bom para quem? Para aqueles que querem que eles permaneçam dentro das paredes, é claro.
Mas esse controle é mais vasto do que se pode imaginar. Ele está em toda parte, em múltiplas formas.
Os soldados também desejam conforto. E eles têm. Como?
Todos sabem que estão sendo cuidados. Existe alguém mais poderoso do que um único ser humano poderia imaginar, um ser por trás de tudo. E isso, de alguma forma, conforta. Porque significa que a responsabilidade maior não é deles, obviamente. Não precisam se preocupar com o que fazem ou deixam de fazer, com o impacto de suas ações. Não precisam se preocupar com o futuro, com as pessoas, afinal, tudo faz parte do plano desse “ser poderoso”, e ele lidará com tudo.
É reconfortante acreditar que não precisam pensar por si mesmos, que o destino não está em suas mãos. É mais fácil assim. Estão cansados, precisam acreditar que há alguém cuidando de tudo. E como aceitam decisões que fogem de sua compreensão, também aceitam as decisões das pessoas que estão “acima” deles, conforme a arquitetura.
Não questionam sua realidade.
E a realidade deles? Um grande espetáculo feito para o lucro. Mas vamos por partes.
Enquanto todos estão ocupados vendendo seu tempo em troca de sobrevivência, há quem lucre explorando essa sociedade.
É uma arquitetura tão bem construída que é preciso ajustar a mente para conseguir enxergar.
O povo, por exemplo, não enxerga. Todo o dinheiro ao qual têm acesso? São apenas migalhas deixadas para eles. Eles são parte de um jogo jogado de acordo com os interesses das pessoas por trás dos bastidores.
Não veem o pequeno labirinto em que estão. Não sabem que existem pessoas por trás dele, com um propósito definido. Não percebem que estão sendo usados, assistidos como parte de um espetáculo.
Estão ocupados demais com os problemas do seu “mundo real.”
Tudo a que têm acesso foi criado para lucro, para controle, para um propósito.
Sua religião? A forma mais simples de controle. Afinal, eles fazem o trabalho sozinhos, tornam-se cegos por si mesmos. Seu dinheiro? Escravidão com compensação mínima, entregue num cheque enfeitado com um laço, uma promessa de liberdade vendida em parcelas. O caos? Apenas mais um ingrediente do espetáculo: É algo que mantém as pessoas ocupadas, essa distração causa uma sensação de controle sobre a própria vida. Sua medicina? Resolve problemas, mas cria novos.
Sua tecnologia? Brinquedo barato perto do quanto ela realmente já avançou.
E os problemas do mundo? Fome? O planeta morrendo? Doenças?
Todas essas questões já têm solução, mas isso não é do interesse dos que comandam o espetáculo, já que eles estão mais interessados em dinheiro e poder.
Por que se importariam com o bem-estar das pessoas? Estão sobrevivendo, e isso já basta.
Por que acabariam com a fome do mundo? Não traz benefícios que lhes interessa.
Por que realmente curariam as doenças? Isso significaria menos lucro.
Assim, não conseguem escapar do espetáculo, mesmo que soubessem de sua existência. Afinal, grande parte de seus problemas continuam sendo reais, além de não saberem como alcançar os bastidores.
Como no meio de um campo de batalha, pode se escapar facilmente? Não há saída simples. Se quiser encontrar um caminho, é preciso continuar se movendo.
Ou talvez não haja saída alguma.
Resiliência, porém, é uma característica proeminente da nossa espécie. Desde quando os limites impediram a humanidade?
Diante desse cenário, se pode concluir que esta é uma arquitetura mortal. O palco? Invisível, ainda assim, todos continuam a atuar sobre ele.
Este é o maior espetáculo já feito pela humanidade, mas quase ninguém jamais ouviu falar dele.
Autoria
Bruna Koziol
Texto sensacional, uma bela perspectiva. Por este motivo é fundamental apropriar-se da verdade em que o mundo físico é resultado do mundo espiritual.
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